Oshougatsu: Ano-novo japonês




O Ano-Novo japonês, oshougatsu, é uma das comemoração mais importante do calendário do japonês. Diferentemente dos hábitos brasileiros, os japoneses não celebram vestidos de branco, bebendo champanhe ou pulando sete ondas em uma praia para depois cair na folia em um Carnaval fora de época, como ocorre no Brasil.
Con­si­derado sagrado pelos japoneses, o oshou­gatsu é, acima de tudo, uma data reservada para que a pessoa possa se purificar, fazer orações de agradecimento e receber o novo ciclo que se inicia. Em vez de saudar o fu­turo e fazer muitos planos como os ocidentais fazem ao dizer “Feliz Ano-Novo”, os japoneses agradecem pelas conquistas obtidas no ano que está terminando, di­zendo: “Akemashite omedetou gozaimasu!”
A preparação para o oshougatsu começa cedo. Em novembro, os japoneses fazem verdadeiras faxinas em suas residências, que chamam de oosôji, uma espécie de purificação, cujo sentido não é só de limpeza do espaço físico mas também espiritual. A limpeza se estende às empresas, e os funcionários são convocados para, em mutirão, purificar o ambiente de trabalho.
Se tratando de um país com maioria budista, à meia-noite há a cerimônia budista chamada Joya-no-Kane, que consiste em 108 badaladas dos sinos dos templos japoneses, de acordo com os ensinamentos budistas, os seres humanos tem 108 desejos mundanos, obstáculos à Iluminação, aos quais renunciamos quando os sinos são tocados aquele numero de vezes. Assim, estes obstáculos são transformados em Portais do Darma. Mas não são somente os budistas que aderem a essa tradição. Para a maioria dos japoneses, é hora de buscar a purificação e saudar o ano que chega.
Na véspera do Ano Novo, as famílias se reúnem para comer sobá (macarrão de trigo sarraceno), que neste caso é chamado de Toshikoshi-sobá – literalmente macarrão da passagem de ano.
Hoje em dia este macarrão, por ser fino e longo, simboliza longevidade, pois lembra barba e cabelos brancos dos deuses da longa vida.
Além disso, o sobá tem o mesmo som da palavra japonesa que significa perto – ou seja , indica a proximidade do Ano-Novo.
Outra tradição é beber saquê doce (otosô), que começa a ser servido pela manhã. Segundo os antigos, o vinho de arroz japonês traz saúde e vida longa. Sendo assim, saúde, ou, em japonês: kampai!

Referências:

http://madeinjapan.uol.com.br
http://japaoonline.locasite.com.br

Presentes sob a Árvore Boddhi

Lisa Simpson entra em crise com sua fé e se converte ao Buddhismo, o Reverendo Lovejoy tenta dissuadí-la dizendo que ela não pode mais celebrar o Natal porque “Papai Noel não deixa presentes embaixo da Árvore Boddhi”. Então Lisa visita o “Templo Buddhista de Springfield” onde Lenny, Carl e Richard Gere estão meditando e recebe um conselho.



Feliz Natal a todos!

Primeiros Passos no Zen




"Você não deveria menosprezar o seu primeiro passo no caminho espiritual. Ele é, talvez, o mais importante, e não deveria ser dado assim de qualquer jeito, displicentemente. Por favor, esteja bem atento, presente, consciente, de coração, dando o seu primeiro passo no Zen. Isto é muito importante! Eu gostaria que vocês todos vissem que, no fundo, este singelo e pequeno 'primeiro passo' já encerra em si mesmo todo o caminho. Se você der um passo na direção certa, com uma orientação adequada, rumo ao Buda e ao Darma verdadeiros, na verdade, você 'já chegou'. Caminhar em direção ao Buda verdadeiro é já tê-lo encontrado! Se a viagem será longa ou curta, não faz diferença! Qual a pressa? Caminhando assim, estaremos serenos, nosso andar respeitará nosso próprio ritmo. Seremos gentis com nossos pés, com nosso corpo e mente. Tudo isto permitirá que fiquemos atentos e receptivos para desfrutar todas as maravilhas da paisagem que se descortina a cada novo passo. Por isso, às vezes digo que andar bem o caminho é mais importante do que 'chegar'. Quando você andar assim, vai perceber que cada passo no Zen é sempre o primeiro passo... "

(Daigyo Moriyama Rôshi) 

O ativismo social dos Zenpeacemakers



A filosofia Zenpeacemaker foi desenvolvida por Roshi Bernie Glassman com a fundação do Centro Zen de Nova Iorque (ZCNY) no início dos anos oitenta. Durante a década de setenta Roshi Glassman atuou no Centro Zen de Los Angeles, junto ao seu professor Maezumi Roshi, até que se mudou  para Nova Iorque para estabelecer um novo centro de prática. Bernie Glassman havia sido educado em um contexto de idéias de esquerda; isto junto  a novas experiências pessoais  levam-no a ver como perfeitamente natural  a combinação da prática zen tradicional com trabalho social junto à comunidade  local.
A primeira grande mudança foi a decisão de mudar-se de uma mansão numa zona rica da cidade – Riverdale- para uma casa na comunidade carente de  Yonkers, onde estava a população menos favorecida, a qual já vinham atendendo.
Este primeiro passo  trouxe muitas consequências. Vários praticantes deixaram o centro, pois pensavam que a vida espiritual era algo separado do trabalho social; já outras pessoas foram atraídas justamente pela possibilidade de  combinar o ativismo social com a espiritualidade. A primeira medida do ZCNY foi estabelecer um programa de treinamento vocacional para a população desempregada. Para isso praticantes de São Francisco vieram passar um longo período em Nova  Iorque onde ensinaram a como fazer pão e doces.  Já habilitado, o centro  com o nome Fundação Greyston, abriu uma padaria que começou a treinar as pessoas neste ofício.   A partir daí, dentro de uma visão holística abriu-se uma creche para cuidar dos filhos das mães que estagiavam na padaria e em seguida, seguiu-se um programa de renovação de moradias, com a Fundação Greyston  canalizando recursos municipais, estaduais e federais  para a área de habitação popular. Bernie Glassman foi agraciado com o titulo “Empresário Social do Ano” por este projeto exitoso,  que extendeu-se de 1980 a 1994.  Ao longo deste tempo não  deixou de lado junto a seus alunos o estudo do budismo nem da filosofia Zen, tendo  publicado dois livros neste período: “Instructions to the Cook” sobre  a implantação do projeto Greyston  e  o segundo, “The Perfect Circle” sobre os ensinamentos Zen.  A partir de 1995, junto com sua segunda esposa, Jishu Holmes, Bernie Glassman deixa Greyston que já funcionava autonomamente e  criam o Zenpeacemakers como a organização que leva adiante a filosofia do ativismo social como base de uma espiritualidade voltada para os mais necessitados. Surgem os retiros de rua e de Auschwitz, como parte do treinamento para desenvolver a compaixão,  através de visitas ou da imersão em situações  de extremo sofrimento humano, que leva  cada um a se comprometer profundamente em aliviar o sofrimento tanto próprio como dos demais. Um outro aspecto essencial  dos Zenpeacemakers é o trabalho interreligioso, como base para uma filosofia de paz mundial. Para tanto,  a partir do ano 2000, quando recebem  como doação uma fazenda abandonada, o grupo dedica-se à construção da sede, a “Casa de todos os Povos” --Motherhouse em inglês—em Massachussets, perto de Boston.  A construção desta sede consome os recursos materiais e humanos do grupo por mais de três anos até sua inauguração em 2006. A partir de janeiro de 2007 uma comunidade de 54 centros afiliados tem se reunido anualmente para treinamento e discussão sobre os rumos da organização, estando  o Viazen participando  desde 2007. Os Zenpeacemakers atualmente têm a proposta de ser uma organização de apoio a todos os ativistas sociais de orientação espiritual. Para isso, já em 2008 começou uma formação intensiva por quatro meses de ativistas sociais no modelo de Greyston.  O programa é bastante abrangente e inclui aulas de organização comunitária, psicologia individual e grupal e princípios da liturgia budista  para os que optam pelo caminho da ordenação Zenpeacemaker, em parceria com a Faculdade de Religião de Harvard. Com o nome de Instituto Maezumi,  torna-se  um espaço  interreligioso,  onde ocorrem mensalmente serviços judaicos, hindus e sufis . O link abaixo dá informações detalhadas em inglês sobre o trabalho atualmente desenvolvido nos USA.
Em Porto Alegre o Zenpeacemakers , coordenado por José Ovídio C. Waldemar, em parceria com o Instituto da Familia e o Viazen tem desenvolvido um programa de consultas psicoterápicas gratuitas para os alunos das escolas públicas do bairro Petrópolis. Há dois anos começou também um programa de educação em Inteligência  Emocional na Escola Ivo Corseuil e em 2008 iniciou uma parceria com o núcleo de ação social (NASCEM) do CEEB (Centro de Estudos Budistas Bodisatva) na vila Jardim Castelo em Viamão.

Artigo de Ovídio Waldemar, praticante do ViaZen de Porto Alegre, RS

Bodhidharma - Esforço

Se você não ver sua natureza, e passar o tempo todo procurando noutro lugar, você nunca encontrará um buda. A verdade é: nada há para encontrar, mas para atingir tal entendimento você precisa se esforçar para entender.
Se, todavia, numa situação afortunada e rara, uma pessoa dotada de profunda inteligência entende o que Buda quis dizer, essa pessoa não precisa ser instruído por ninguém. Tal pessoa tem uma consciência natural superior a todo ensinamento. Mas se você não for tão dotado, estude muito, que através da instrução você entenderá.
As pessoas que não entendem e pensam que podem entender sem estudo não são diferentes daqueles ignorantes iludidos que não podem diferenciar branco do preto.

Bodhidharma - Reconhecer sua Natureza

Os budas não salvam budas. Se você utilizar sua mente para procurar um buda, você não verá o buda. Uma vez que você procure por um buda alhures, você nunca verá que sua própria mente é o buda. Não use um buda para adorar um buda. E não use sua mente para invocar um buda. Budas não recitam sutras. Budas não mantêm preceitos e budas não quebram preceitos. Budas não mantêm ou quebram coisa alguma. Budas não fazem bem ou mal.
Para encontrar um buda você tem que ver sua natureza . Quem quer que veja sua natureza é um buda. Se você não vê sua natureza, invocar budas, recitar sutras, fazer oferendas e manter preceitos é inútil. Invocar budas resulta em bom karma, recitar sutras resulta em boa memória, manter preceitos resulta em um bom renascimento e fazer oferendas resulta em futuras bênçãos - mas não em Budas.

Bodhidharma - Procurar Budha

Tentar achar um buda ou iluminação é como tentar agarrar o espaço. O espaço tem nome mas nenhuma forma. Não é algo que você possa pegar ou largar. E você certamente não pode agarrá-lo. Além dessa mente você nunca verá um buda. O buda é um produto de sua mente. Por que procurar um buda além dessa mente?
As pessoas estão iludidas. Elas não são conscientes de que suas próprias mentes são o buda. Do contrário, elas não procurariam por um buda fora da mente.

Kokoro; Shin 


Obs: O Ideograma para mente é o mesmo usado para coração e espírito, deste modo, não devemos ficar limitados a tradução utilizada no texto, pois este termo é muito abrangente.

Bodhidharma - Esboço da prática




Bodhidharma nasceu em torno do ano 440 em Kanchi, capital do reino sulista indiano de Pallawa. Ele era um brâmane de nascimento e o terceiro filho do Rei Simhavarman. Quando ele era jovem, ele converteu-se ao budismo, e mais tarde o Dharma lhe foi ensinado por Prajnatara, de Magadha, que foi convidado pelo seu pai. Magadha era o antigo centro do budismo. Também foi Prajnatara quem disse para Bodhidharma ir para China. Uma vez que a tradicional rota terrestre estava bloqueada pelos hunos, e uma vez que Pallawa tinha laços comerciais por todo Sudeste Asiático, Bodhidharma partiu de navio de um porto nas proximidades, Mahaballipuram. Depois de contornar a costa da Índia e a Península da Malásia por três anos, ele finalmente chegou ao sul da China ao redor do ano 475.

Muitas estradas levam ao caminho, mas basicamente há apenas duas: prática e dicernimento. 

Entrar pelo discernimento significa ver aquilo que é, através de ensinamentos e acreditar que todos seres vivos compartilham a mesma natureza, a qual é dissimulada pela sensação e ilusão. Aqueles que saem da ilusão para a realidade, os que meditam defronte à parede, a ausência de dualismo, a unidade de mortalidade e sabedoria, e que permanecem imóveis  perante às escrituras estão em concordância completa e óbvia com o dicernimento. Sem se moverem, sem esforços, eles entram, dizemos, pelo dicernimento.

Entrar pela prática refere-se as Quatro Práticas,  levadas em consideração: sofrer adversidades, hamornizar-se às condições, nada buscar e praticar o Dharma.

Primeiramente, sofrer adversidades. 
Quando aqueles que buscam o caminho encontram adversidades deveriam pensar: "por incontável tempo tenho dedicado-me ao trivial em detrimento do essencial e vagueado em todo tipo de existência, raivoso sem motivo e culpado de inúmeras transgressões. Agora, embora eu não cometa erros, sou punido pelas conseqüências de minhas ações. Nem os deuses nem os homens podem antever quando uma má ação frutificará. Aceito isso de coração aberto e sem reclamação." Dizem os sutras: "Quando você encontra adversidades não se exaspere, ela é conseqüência de suas ações". Com tal entendimento você está em harmonia com a razão. E ao sofrer, você entra no Caminho.

Em segundo, adaptando-se às condições. 
Como mortais, somos regidos por condições e não por nós mesmos. Todo sofrimento e toda alegria que experimentamos depende de cauas e condições. Se devêssemos ser agraciados por algum grande prêmio, tal como fama ou fortuna, é o fruto da semente plantada por nós no passado. Quando mudam as condições, isso cessa. Por que deliciar-me com esta existência? Mas, enquanto o sucesso e o insucesso dependem de condições, a mente não cresce nem diminui. Aqueles que permanecem imóveis perante os ventos da alegria e da tristeza, silenciosamente seguem o Caminho.

Em terceiro, nada buscar. 
As pessoas estão iludidas. Estão sempre ansiando por algo, sempre, por assim dizer, buscando. Mas os sábios despertam. Eles escolhem o dicernimento em vez dos hábitos. Eles fixam suas mentes na natureza dos fenômenos e deixam seus corpos mudarem com as estações. Todos os fenômenos são vazios de si mesmo Eles nada contêm que valha se apegar. A Calamidade alterna-se com a Prosperidade. Habitar nos três reinos (desejo, raiva e ignorância) é habitar numa casa em chamas. Apegar-se ao corpo (forma) é insatisfação.  Aqueles que compreendem isso desapegam-se de todas as coisas existentes e param de imaginar ou buscar algo. Os sutras dizem: "Buscar é insatisfação. Nada buscar é encontrar a satisfação". Quando você nada busca, você está no Caminho.

Em quarto, praticar o Dharma.
O Dharma é a afirmação de que todas as naturezas são puras. Através dessa verdade, todas aparências são vazias de si mesmo. Decadência e apego, sujeito e objeto são vazios, apenas discriminações. Os sutras dizem: "O Dharma não inclui seres, pois o Dharma está livre da noção de 'eu'." Aqueles que são sábios o suficiente para entender esta verdade estão ligados à prática de acordo com o Dharma. E uma vez que isso é real, incluindo que nada vale a pena buscar, eles dão seus corpos, vidas e propriedades em caridade, sem lamentar e sem a vaidade do doador, do presente ou do presenteado. E, para eliminar a ignorância, eles ensinam, mas sem apegarem-se à forma. Assim, através de sua própria prática, eles são capazes beneficiar os seres. E, assim como a caridade, eles também praticam as outras virtudes. Mas enquanto praticam as seis virtudes (generosidade, preceitos, paciência, esforço, concentração e sabedoria) para eliminar a ilusão, eles nada praticam. Isso é conhecido por "praticar o Dharma".

Como aprender sobre o budismo se não há um templo próximo?

Ao final de um texto publicado em seu blog, Folhas no Caminho, o Prof Sasaki encerra dizendo:

"No novo artigo que apareceu hoje no site brasileiro de Ajahn Buddhadasa, chamado "Unidade na Diversidade", e que conta um pouco da amizade entre Tan Ajahn e um grande amigo muçulmano, este diz das dificuldades de ir visitar o mestre:

"Nós tivemos que pegar um trem de Bangkok e chegamos em Chaiya às 4:00h da manhã. Phra Kuang e eu tivemos que esperar na estação até estar claro o suficiente. Então caminhamos através dos campos e florestas. Era a estação chuvosa, e de vez em quando tinhamos que atravessar águas chegando até a nossos peitos. Mas eu nunca pensei em desistir.”

"Eu costumava subir o Phu Kradueng em Loei quando ainda era uma selva. Aquilo era realmente difícil - mas no topo das colinas, o ar fresco e puro me fazia sentir como se eu estivesse em outro mundo, e todo o cansaço ia embora.”

"Eu tive que caminhar muito tempo antes que alcançasse Suan Mokkh, mas não me sentia nada cansado. Eu fui confortado pelo pensamento de que eu iria obter um discernimento do Dhamma de um monge cujas idéias eram muito diferentes do que eu tinha ouvido, como se as dele pertencessem a um outro mundo".



"Entretanto hoje as pessoas reclamam que o centro de Dharma mais próximo fica *só* no bairro vizinho. "Ah se tivesse um perto de casa! Aí eu frequentaria..."

No final das contas, podemos nos perguntar se é o Buddhismo que deve se abrir e difundir, ou se são as pessoas interessadas que devem se levantar de suas poltronas. Já escrevi sobre isso, aliás, em "O Que Se Fazer Quando Se Está Só". Se não há pessoas interessadas, ativas e dispostas, não seria questão de perguntar para quê então deveria o Buddhismo existir no Brasil? Existe uma idéia comum que diz que onde não há mérito o Dharma não se estabelece. Eu não gosto da palavra "mérito", mas a idéia por trás me parece verdadeira. Se não há um jarro, para quê despejar água no chão? O Dharma só é necessário porque existem pessoas interessadas nele. Abrir e difundir o Buddhismo só para que o "Buddhismo" continue existindo, é fazer do "Buddhismo" uma entidade merecedora de existência própria, independente de para quem ele se dirige."

Encontrando Patrul Rinpoche



Entre os dias 4 a 8 de novembro, em Brasília, tivemos a oportunidade de encontrar o grande mestre Patrul Rinpoche. Através de sua profunda sabedoria e compaixão, demonstrou sua grande habilidade como professor ao apontar a natureza da mente.
Fomos muito bem recebidos pela Sangha Tibetana Kagyu Pende Gyamtso. Ao final da viagem tivemos a felicidade de conhecer a querida Gyokuen San e nos sentarmos juntos com a Sangha Kzazen.

Abaixo um texto do 1º Patrul Rinpoche


CONSELHOS DE MIM PARA MIM MESMO
Texto de Patrul Riponche


Vajrasattva, única deidade, Mestre,
Tu sentas-te num trono de lótus, de luz branca de lua cheia,
No desabrochar de cem pétalas, pleno de juventude.

Pensa em mim, Vajrasattva,
Tu que te manténs equânime dentro do universo manifestado;
Isto é Mahamudra, benção do pleno vazio.

Ouve lá, oh Patrul de mau Karma,
Praticante da distração.

Há eras que tu estás
Apanhado, entranhado e iludido pelas aparências.
Estás consciente disso? Estás?

Neste preciso momento, em que estás
Debaixo da magia da percepção errônea
Tens que ter atenção.
Não te deixes levar por esta vida vazia e falsa.

A tua mente devaneia
Tentando levar à cabo projetos sem utilidade:
É uma perda de tempo! Desiste!

Pensando sobre centenas de planos que queres executar,
Sem nunca ter tempo de os acabar,
Só sobrecarregas a tua mente.

Estás completamente distraído
Por todos esses projetos, que nunca mais acabam,
Mas que continuam a aparecer, como correntes de água.

Não sejas tolo, ao menos por uma vez:
Senta-te, simplesmente.

Ouvindo os ensinamentos, e tu já ouviste centenas deles,
Mas não tendo atingido o sentido profundo de nenhum deles,
Qual é o sentido de ouvir mais?

Refletindo sobre os ensinamentos, mesmo tendo-os escutado,
Se eles não te vêm à mente quando são precisos,
Qual o sentido de mais reflexão?
Nenhum.

Meditando sobre o ensinamento,
Se a tua prática de meditação ainda não curou
Os estados obscuros da mente:
Esquece-a!

Já somaste quantos mantras fizeste
Sem ter conseguido a visualização do kyerim?
Podes ter conseguido as formas de deidades belas e claras
Mas não estás a pôr fim ao sujeito e ao objeto.
Podes catalogar o que aparece como sendo espíritos maus e fantasmas,
Mas não estás a treinar o fluxo da tua própria mente.

Sobre as tuas ótimas quatro sessões de prática de sadhana,
Tão meticulosamente arranjadas:
Esquece-as!

Quando estás com boa disposição,
A tua prática parece ter imensa claridade;
Mas não te podes relaxar nela.
Quando estás deprimido,
A tua prática é bastante estável,
Mas não tem qualquer brilho.
Quanto à compreensão,
Tentas forçar-te a um estado semelhante a rigpa,
Como se estivesses a atirar a um alvo!

Quando essas posições de yoga e práticas mantém a
tua mente estável,
Só à custa de a manterem estrangulada:
Esquece-as!

Dar altas conferências
Não faz nenhum bem ao fluxo da tua mente.
O caminho da razão analítica é preciso e acutilante:
Mas é mais desilusão, caca imprestável.
As instruções orais podem ser muito profundas,
Mas não se tu não as puseres em prática.

Ler e reler os textos do dharma
Só serve para ocupar a tua mente e fazer arder os olhos:
Esquece-os!

Bates o teu pequeno tambor damaru - ting, ting -
E a tua audiência fica deliciada a ouvi-lo.
Recitas palavras acerca de oferecer o teu corpo,
Mas ainda estás ternamente agarrado a ele.
Bates os teus pequenos cimbales -cling, cling -
Sem ter o propósito último na tua mente.

A todo este equipamento de prática do dharma,
Que parece tão atraente:
Esquece-o!

Neste momento, os estudantes estão todos a estudar arduamente,
Mas no fim não vão conseguir manter o ensinamento...

Hoje, parecem ter apanhado a idéia,
Mas, mais tarde, nem um rasto dela fica.
Mesmo se um deles conseguir apreender um pouco,
Raramente aplica o apreendido à sua própria conduta.

A todas estas elegantes disciplinas do dharma:
Esquece-as!

Este ano ele realmente preocupa-se contigo,
Para o ano já não será assim.
A princípio parece modesto;
Depois se exalta e fica pomposo.
Quanto mais tu o paparicas e cuidas dele,
Mais ele se distancia de ti.

A estes queridos amigos
Que mostram faces tão sorridentes ao princípio:
Esquece-os!

O sorriso dela parece tão cheio de alegria,
Mas quem sabe se será realmente assim?
Por um momento de puro prazer,
São nove meses de dor mental.
Pode ser bom durante um mês,
Mas, mais cedo ou mais tarde, vai haver sarilho.

Às pessoas chatearam-te, à tua mente embrulhada,
À senhora tua amiga:
Esquece-os!

Essas reuniões, sem fim, de conversa
São só apego e aversão:
É mais caca, sem utilidade.
Na altura parece um entretenimento maravilhoso,
Mas, na realidade, só se está a espalhar histórias sobre os erros de outras pessoas.
A tua audiência parece estar a escutar polidamente,
Mas depois vão ficando embaraçados por ti.

Fala sem utilidade, que só te faz ficar com sede:
Esquece-a!

Dar lições sobre textos de meditação
Sem tu próprio teres ganhado
Experiência pela prática,
É como recitar um manual de dança
E pensar que é o mesmo que, realmente, dançar.

As pessoas podem escutar-te com devoção,
Mas não é o mesmo que a coisa real.

Mais tarde ou mais cedo, quando as tuas próprias ações
Contradisserem os ensinamentos, vais sentir-te envergonhado.

Pronunciar só as palavras,
Dar explicações do dharma que soam tão eloqüentes:
Esquece!

Quando não tens um texto a que te agarrar, anseias por ele;
Quando, finalmente, o obténs, mal olhas para ele...

Mesmo que o número de páginas seja pequeno,
É-te difícil arranjar tempo para copiá-las todas.
Mesmo que tu copiasses todos os textos de dharma que existem,
Não ficarias satisfeito.

Copiar textos é uma perda de tempo
(a menos que recebas pagamento por isso...):
Portanto, esquece!

Hoje estão felizes;
Amanhã, furiosas.
Com os seus momentos altos e baixos,
As pessoas nunca estão satisfeitas.
Mesmo que sejam simpáticas,
Podem não te acorrer quando tu necessitas delas,
Desapontando-te ainda mais.

A toda essa polidez, a cultivar
Comportamento cortês:
Esquece-a!

Trabalho mundano e religioso
Pertence à esfera dos polidos.
Patrul, meu amigo, não é para ti!

Nunca repararam no que acontece sempre?
A um velho boi, depois de todo o trabalho de o pedir emprestado para ele prestar os seus serviços,
Parece não ter restado nenhum desejo,
Exceto para adormecer.

Sê também assim - sem desejo.

Somente dorme, come, mija e caga.
Não há mais nada que se tenha que fazer nesta vida.

Não te envolvas noutras coisas:
Elas não são o objetivo.

Mantêm um perfil comedido,
Dorme.

Neste triplo universo
Quando tu és mais modesto que a tua companhia
Deves tomar o assento mais baixo.

Se acontecer que tu sejas aquele que é superior,
Não fiques arrogante.

Não existe nenhuma necessidade absoluta de ter amigos íntimos;
Ficas melhor mantendo-te contigo mesmo.

Se não tiveres nenhuma obrigação mundana ou religiosa,
Não fiques a desejar obter uma!

Se deixares ir tudo,
Tudo, tudo...

Esse é o verdadeiro objetivo!



Estes conselhos foram escritos pelo praticante Trime Lodro (Patrul Rinpoche) para o seu amigo íntimo Ahu Shri (Patrul Rinpoche), especificamente talhados para as suas capacidades.

Estes conselhos devem ser postos em prática.

Mesmo
que tu não saibas praticar, deixa ir tudo - é o que eu realmente quero dizer. Mesmo que não sejas capaz de ser bem sucedido na tua prática do dharma, não fiques triste nem zangado.

Possa isto ser virtuoso.

As Cinco Lembranças




1. Eu tenho a natureza daquilo que envelhece. Não há como escapar da velhice.  
2. Eu tenho a natureza daquilo que adoece. Não há como escapar da doença.  
3. Eu tenho a natureza daquilo que morre. Não há como escapar da morte.  
4. Tudo que me é caro e todas as pessoas que amo tem a natureza daquilo que muda. Não há como não me separar deles.
5. Minhas ações de corpo, fala e mente são meus únicos pertences verdadeiros. Não há como escapar da conseqüência de minhas ações. Elas são o chão no qual eu piso.

Essência da Mente



O cavalo Vazio
Cavalga o Vazio

Alguns grandes meditantes não crêem na sua mente, que a essência da mente é vacuidade. Eles pensam que ela é, depois que não é, e criam muitas dúvidas. É um erro não compreender a essência da mente. Não é preciso duvidar. Sua mente é vazia desde o início, assim permaneça simplesmente no estado de vacuidade. Se as dúvidas surgem, permaneça exatamente sobre as dúvidas.


(Patrul Riponche) 

Histórias que Mudam o Mundo



O mundo não é estático, grandes ou pequenas histórias de mudança acontecem todos os dias ao nosso redor. E cada uma delas tem seu papel na construção coletiva da história humana. Partindo da certeza de que cada trajetória transforma, o Museu da Pessoa lança a campanha Histórias que Mudam o Mundo, ação que reunirá num painel colaborativo vídeos com histórias de mudança de todo o país.

Meditação como caminho, a base da lucidez

Nada Buscar



Alguns grandes meditantes não permanecem como seria necessário, sobre a mente em-si, mas buscam inutilmente a mente aqui ou ali. Olhando e buscando desse modo aqui e ali, a mente não pode ser compreendida. É o erro de não compreender o sentido real. Não temos necessidade de olhar e buscar aqui e ali. Permaneçamos simplesmente na mente que olha e que busca aqui ou ali.

Alguns grandes meditantes não deixam sua mente permanecer sobre os pensamentos se há pensamentos, e sobre ausência de pensamentos se não há pensamentos. Eles pensam que os pensamentos vêm de algum lugar distante, e vão então olhar e buscar aqui ou ali e, desse modo, eles não reconhecem a sua mente. Não é preciso olhar ou buscar aqui ou acolá, deixem simplesmente suas mentes permanecerem sobre os pensamentos se há pensamentos, e sobre a ausência de pensamento se não há nenhum.


(Patrul Riponche) 

Difícil de Apreender




Alguns grandes meditantes dizem que a natureza da mente é difícil de apreender. Não é tão difícil assim. O erro está em não compreender a meditação. Não há necessidade de buscar a meditação e não há necessidade de adquiri-la. Não há necessidade de faze-la e não há necessidade de trabalhar na meditação. É suficiente permanecer no estado que permite o livre surgimento de tudo o que pode aparecer na mente. Desde sempre, nossa mente está presente, então não há necessidade de perder ou de encontrar, de ter ou de não ter, a mente está presente desde sempre; então quer pensemos em não pensar ou não, esta mente está justamente em si mesma. O que quer que surja na mente, é suficiente permanecer sem artificialidades, calmamente e sem vacilar sobre tudo o que se produz. Alegria e felicidade virão sem esforço. Quando a prática do Dharma parece difícil, é simplesmente o sinal de nossos próprios erros e marcas.

(Patrul Riponche)

Tristeza e Meditação

 

Alguns grandes meditantes, homens e mulheres, pensam que não são capazes de reconhecer a natureza da mente, assim se tornam tristes e deixam correr numerosas lágrimas. A tristeza não é necessária. Não há fundamento no fato de não reconhecer. Permaneçamos simplesmente sobre aquele que pensa que não é capaz de reconhecer a natureza da mente.

(Patrul Riponche)



Giri, Gisei, Gamam e Ganbaru





O Bushido e o Zen, influenciaram todos os aspectos da vida japonesa, suas crenças filosóficas e espirituais, sua etiqueta, sua vida familiar, sua maneira de vestir, de pensar, seu trabalho, seu senso de estética e sua forma de se divertir.
Essa influência se deve a 4 princípios derivados dessas artes, chamados de os Quatro G (s).

1-  Giri: Significa obrigação, dever.
Esse princípio liga as pessoas a tipos e graus específicos de obrigações com seus professores, mentores e superiores hierárquicos. Giri trás um profundo senso de honra e orgulho e, aqueles que seguem o Giri (professores, mentores e superiores), sacrificam sua vida pessoal a serviço aos seus subordinados.
Se alguém faz qualquer coisa para vc, vc começa a carregando uma obrigação ou como se diz no Japão (On). Um ON (dever ou obrigação) pode ser bom ou mal. Pode ser uma coisa grande ou ate mesmo insignificante, como um amigo que trás para vc um presente de uma viagem, ou um insulto a sua honra.
Como não deixar de cumprir com todas as suas obrigações decorrentes da quantidade de On acumulado? Talvez o amigo que lhe tenha presenteado, nem se lembre mais do ato, então pq se preocupar com isso? Pq isso o transforma num ser especial, pq faz com que vc transceda os valores mundanos de ganho e perda.
Assim se comportando, vc passa a ser alguém que se pode confiar, não 99.9% do tempo, mas 100% do tempo.
O conceito de Giri demanda que todas as obrigações devem ser pagas e, os seus sentimentos pessoais nesta questão são completamente irrelevantes. Não importa que você não tenha pedido o presente, talvez nem tenha gostado, mas vc acumulou On e o Giri te obriga que essa obrigação seja correspondida.
Um velho provérbio japonês diz:  “A morte é mais leve que uma pena de pombo, se comparada ao Giri que é mais pesado do que uma montanha”.
Giri faz com que vc cumpra as suas obrigações como superior hierarquico ou como subalterno, afinal, cada um tem deveres a serem cumpridos, em funçaõ do cargo, posição etc que ocupa.

2 - Gisei: Significa sacrifício, em favor da comunidade.
Devemos sempre levar em conta a felicidade e a tranquilidade do grupo, o ganancioso pensamento individualista, produz muito sofrimento e dor e, esta dor acabará reverberando em nós mesmo.
A meta é conseguir unificar corpo e mente a tal ponto que não exista nenhuma diferença entre pensar alguma coisa e coloca-la em prática. Esse estado mental é chamado de Mushin ou Munen e significa, "sem mente", a mente se torna vazia de conceitos de bom ou ruim, de suportável ou insuportável, de tal forma que não intefere nas ações do corpo, apenas existe o trabalho a ser feito e o esforço de chegar a perfeição em qualquer ação.
Se todos numa comunidade pensarem assim, o trabalho fica dividido de forma equanime entre todos os membros do grupo, não exarcebando um em detrimento dos outros, a comunidade cresce, o esforço é diluido entre os membros e todos podem se beneficiar do esforço coletivo.
Tendo esse conceito em mente, não esperamos que outro faça aquilo que deve ser efetuado, sem discutir, sem se preocupar se os outros estão fazendo o que lhes cabe ou não, fazemos o que nos cabe o mais rápido, melhor e com a melhor perfeição possível.

3- Gamam Kurabe: Significa até a perfeição.
Gamam kurabe é aplicado a qq coisa, com o objetivo de perseverar ate que a maestria seja alcançada e superada. É o pensamento de nunca deixar de se esforçar para que algo possa ser realizado da forma mais correta e perfeita possível.
É estar sempre tentando melhorar aquilo que parece não ser possível melhorar. Um ditado japones diz: "Ki ga susumanai - Meu espirito nunca esta satisfeito", querendo dizer que sempre podemos fazer melhor, sempre podemos perseverar para que o trabalho saia mais perfeito e mais bonito.
No Japão antigo os meninos com idade de 7 anos eram entregues aos professores e com eles estudavam ate a idade média de 30 anos. O treinamento mais importantes era o de nunca parar de tentar aumentar e melhorar suas habilidades e nunca se sentirem satisfeitos com o grau que houvessem alcançado.

4- Ganbaru: Significa, segurar-se, manter-se firme, continuar tentando, não desistir.
No idioma japones existem palavras, que bem explicitam esse assunto, tais como: ganbarimasu - eu não desistirei, ganbarimashou - nós não vamos desistir, ganbate imasu - continue tentando, não esmoreça.
Um ditado japones: "Não se faz uma espada acariciando um pedaço de ferro"
É comum praticantes de Zen desistirem depois de um certo tempo de prática, achando que o esforço não vale a pena, que o caminho é muito íngreme, que os resultados são muito pequenos etc. mas o valor do sucesso depende em muito de seu esforço em alcança-lo, desisitir frente a qq dificuldade, não constrói um caráter inamovivel, inabalável.
Não se pratica o Zen para se chegar em algum lugar ou atingir algum estado mental específico, qd se pratica o Zen, já alcançamos esse estado mental.
A capacidade de manter-se firme mesmo perante as maiores dificuldades nos capacita a superar todas as dificuldades, sejam elas quais forem e, encontra paralelo na cultura ocidental, conforme se pode observar no poema de Ruduard Kipling.
" Se és capaz de sofrer a dor de ver mudadas, em armadilhas as verdades que disseste
E as coisas, por que deste a vida estraçalhadas, e refazê-las com o bem pouco que te reste.
Se és capaz de arriscar numa única parada, tudo quanto ganhaste em toda a tua vida.
E perder e, ao perder, sem nunca dizer nada, resignado, tornar ao ponto de partida.
De forçar coração, nervos, músculos, tudo, a dar seja o que for que neles ainda existe.
E a persistir assim quando, exausto, contudo, resta a vontade em ti, que ainda te ordena: Persiste!"

Monge Getulio Taigen

As três peneiras




Há muitos séculos atrás, num mosteiro Budista, após a cerimônia noturna, o Abade se retira para o seu merecido descanso e enquanto tomava calmamente o seu chá, à luz de apenas uma lamparina de óleo. Fazendo entreabrir a porta de correr, feita apenas de madeira e papel de arroz, entra um dos monges instrutores do templo, reverenciando profundamente o mestre.

Indagado pelo Abade sobre o motivo de sua visita a essas altas horas da noite, o monge lhe diz que o motivo de sua visita é contar ao mestre sobre alguns comentários que estão correndo no templo sobre um outro instrutor.

O Venerável Abade, então, lhe diz em sua profunda sabedoria:

- Calma! Antes de me contares algo que ouviste sobre outra pessoa, gostaria de lhe perguntar: Já fizeste passar essa informação pelas Três Peneiras da Sabedoria?

- Peneiras da Sabedoria, Venerável Mestre? Espanta-se o monge.

- Sim, as Três Peneiras da Sabedoria. Tudo o que ouvires falar sobre os outros, deve passar pelas Três Peneiras da Sabedoria, antes de ser retido, acreditado e repassado. Ouça com atenção e me responda: Tens absoluta certeza de que o que te contaram é realmente verdade?

- Não, não tenho certeza Venerável Mestre. Apenas sei o que me contaram. – Disse meio sem jeito o monge.

- Então, se não tens certeza, a informação já vazou pelos furos da primeira peneira que é a da profunda investigação da Verdade. Agora ela repousa sobre a segunda peneira, e por isso eu lhe pergunto: - O que tens a me dizer é algo que gostaria que dissessem sobre ti?

- De maneira alguma, Mestre! É claro que não! Diz o monge.

- Então tua estória acaba de passar pelos furos da segunda peneira que é a da compaixão, pois nunca deverias dizer ou fazer a alguém aquilo que não quisesses que fizessem ou dissessem de ti. Agora, tua estória repousa sobre a terceira e última peneira, e por isso lhe faço a última pergunta: - Achas que me contando essa estória sobre o seu irmão e companheiro de mosteiro, ela será útil a ele de alguma maneira?

- Não, Mestre, - respondeu já ruborizado o monge -. Refletindo profundamente, sob a Luz da Sabedoria, vejo que nada de útil poderia surgir dessas estórias e boatos.

- Então, essa estória acaba de vazar pela terceira peneira, para dissolver-se na terra. Nada restou para contar. E assim, lembra-te sempre que devemos ser como as abelhas que mesmo no mais imundo dos pântanos, buscam sempre as flores para delas retirar o doce néctar e nunca como as moscas que mesmo em um corpo sadio, buscam as feridas para delas se alimentar.

Fé sem Dualidade

 
 
"A fé é sem dualidade,
a não-dualidade é a fé".



Mestre Tozan encontrou, ao caminhar pelas montanhas, um eremita vivendo em uma pequena cabana. Perguntou-lhe as razões de sua vida naquela solidão. O eremita respondeu-lhe, "Em outro tempo, vi duas vacas que brigavam. Elas entraram no mar e desapareceram, as duas afogadas". Nada de oposição, nada de dualismo em nossa vida.

As conferências do Buda, os sutras, os koans falam do dharma, mas, ao fim e ao cabo, há apenas uma verdade absoluta: zazen. Algumas pessoas não praticam o zazen e discutem sobre o Zen e o budismo. São comparáveis ao gato que brinca com uma pedra preciosa ou ao bebê que se diverte com um monstro. Se conseguimos retirar as amparas em zazen, podemos descobrir a estrutura. Esse é o samadhi do Hokyo Zanmai, o s Espelho do Tesouro, segredo do Zen, essência do budismo.

Continuar o zazen aqui e agora...

Quando o Mestre Dogen voltou da China, abriu um dojo em Uji, no templo de Koshoji, e disse: "Voltei ao Japão sem nada, com as mãos vazias. Nada tenho sobre o budismo". E concluiu com esta frase célebre: "Uma vez, em quatro anos, na única manhã do décimo mês lunar, o galo cantou".

Taisen Deshimaru Roshi
Hokyo Zanmai - O Samadhi do Espelho Precioso

Vida Cotidiana




"As práticas espirituais só adquirem seu sentido na vida cotidiana. A relação com nossos pais, esposa, marido, filhos e colegas de trabalho, e também com os seres em todos os planos da existência, material e sutil, isto é o termômetro da prática. Um sinal grave é o desinteresse e a falta de compaixão. O isolamento e a prática formal são artificialidades - só se justificam pela remoção de obstáculos que eventualmente proporcionem. Todas as construções espirituais, ainda que meritórias, são esponja, água e sabão, ou seja, dispensáveis ao final."

(Lama Padma Samten)

Momentos com Coen Roshi

Neste final de semana compartilhamos momentos preciosos com Coen Roshi.
Obrigado por vossa compaixão e sabedoria!
Itchi go itchi e

Veja as fotos aqui:

Visita da Monja Coen

 
 
No mês de setembro Uberlândia receberá a visita da Abadessa Coen.
  
Palestra: Natureza Buda
Dia 11 de setembro, sexta, às 19:30.
Auditório do Colégio Nacional - Av Araguari, 100.
Levar um 01 litro de leite integral Longa Vida.
   
Caminhada Meditativa
Dia 12 de setembro, sábado, às 09:00.
Parque do Sabiá, próximo a entrada principal.

Samsara

  
O monge perguntou ao Mestre:
"Como posso sair do Samsara?"
O Mestre respondeu:
"Quem te colocou nele?"

Morte


O Imperador perguntou ao Mestre Gudo:
"O que acontece com um homem iluminado após a morte?"
"Como eu poderia saber?", replicou Gudo.
"Porque o senhor é um mestre... não é?" respondeu o Imperador, um pouco surpreso.
"Sim Majestade," disse Gudo suavemente, "mas ainda não sou um mestre morto."

Conhecendo os peixes



Certa vez Chuang Tzu e um amigo caminhavam à margem de um rio.
"Veja os peixes nadando na corrente," disse Chuang Tzu, "Eles estão realmente felizes..."
"Você não é um peixe," replicou arrogantemente seu amigo, "Então você não pode saber se eles estão felizes."
"Você não é Chuang Tzu," disse Chuang Tzu, "Então como você sabe que eu não sei que os peixes estão felizes?"

Borboleta

 
Certa vez o mestre Chuang Tzu sonhou que era uma borboleta, voando alegremente aqui e ali.
No sonho ele não tinha mais a mínima consciência de sua individualidade como pessoa. Ele era realmente uma borboleta.
Repentinamente acordou, e descobriu-se deitado ali, como um pessoa novamente.
Então ele pensou:
"Fui antes um homem que sonhava ser uma borboleta, ou sou agora uma borboleta que sonha ser um homem?"

Takuan

Mestre Takuan estava morrendo, um discípulo aproximou-se e perguntou-lhe qual era o seu testamento. 
Takuan respondeu que não tinha testamento, mas o discípulo insistiu:
- Não tendes nada ... Nada para dizer?
- A vida não passa de um sonho.
E expirou.

Shikantaza



Mestre Dogen disse: “Sem esperar o despertar, sem pesquisar o que é isto e simplesmente se sentar, tal é a via dos budas e patriarcas”. 
É zazen quem faz zazen, não vocês com suas idéias idiotas sobre o despertar.
Para largar o secundário e concentrar-se no essencial, a vida monástica é muito eficaz. Mas se pode-se praticar no meio da vida social, esta prática torna-se mais forte que a da vida monástica. Mas isto não é fácil. E isto não quer dizer fazer zazen apenas uma ou duas vezes por semana.

(Tokuda Igarashi Roshi)

Coragem para descobrir


Às vezes penso que não queremos fazer perguntas verdadeiras para saber quem somos, por medo de descobrir que existe uma outra realidade diferente desta.
O que essa descoberta faria da maneira como vivemos até agora? Como nossos colegas e amigos reagiriam ao sabemos agora que? Que faríamos com esse novo saber?
Com o conhecimento vem uma responsabilidade. Às vezes, mesmo quando a porta da cela se escancara, O Prisioneiro prefere não sair.


Sogyal Rinpoche 
Extraído do Blog: SamsaraBlog

Essência

 

Na China, havia um monge Zen, chamado mestre Dori, que, por fazer zazen empoleirado num pinheiro , fora alcunhado de mestre Ninho de Passarinho.
Um poeta muito célebre, Sakuraten, foi visitá-lo e, ao vê-lo fazer zazen, disse-lhe:
"Tomai cuidado, que isso é perigoso; podereis, um dia, cair do pinheiro!"
"De maneira nenhuma," respondeu mestre Dori. "Vós é que correis perigo de um dia cair."
Sakuraten refletiu. "Com efeito, vivo dominado por paixão, é como brincar com o raio". E perguntou ao mestre Zen:
"Qual é a verdadeira essência do budismo?"
Mestre Dori respondeu:
"Não façais nada violento, praticai somente o aquilo que é justo e equilibrado."
"Mas até uma criança de três anos sabe disso!" exclamou o poeta.
"Sim, mas é uma coisa difícil de ser praticada até mesmo por um velho de oitenta anos..." completou o mestre.

A Essência e os Fenômenos se Interpenetram


Céu e terra têm a mesma raiz.
Tudo é Um.
A forma visível das coisas não é diferente do vazio,
que é sua natureza essencial.
Um "satori" fraco é aquele em que o mundo do vazio
é ainda visto como diferente do mundo da forma.
Sua mútua interpenetração ainda não foi percebida.
A mente é a verdadeira natureza das coisas.
Buda é Mente.
A Mente não está no interior, nem no exterior,
nem entre os dois.
Não é o Ser ou o Não-Ser, o nada ou o não-nada.
Portanto é chamada a Mente sem morada.
A Mente transcende todas as formas,
mas é inseparável delas.
Qual é a substância desse Buda ou Natureza-Budha?
No Budismo se chama "Shunya" (Vazio).
Ora, o "Shunya" não é apenas o esvaziamento.
É aquilo que está vivendo, dinâmico, sem volume,
não fixo, para além da individualidade ou personalidade.
A matriz de todo o fenômeno.



Temos aqui o princípio fundamental, a Doutrina, ou a Filosofia Budista. Com a experiência da iluminação, que é a fonte de toda doutrina budista, percebemos o mundo de "shunyata". Este mundo não fixo, carente de conteúdo, para além da realidade ou da personalidade.
De acordo com isso, a verdadeira substância das coisas, isto é, sua Natureza-Budha ou "Dharma", é inconcebível e inescrutável. Uma vez que tudo que é imaginável compartilha da forma e da cor, seja o que for que se imagine ser a Natureza-Buda deverá necessariamente ser irreal.
A mente do ego, e a natureza da mente são dois lados da mesma Realidade. Quando se compreende a verdadeira natureza do Universo sabe-se que não existe realidade nem objetiva nem subjetiva. Nesse mesmo instante estruturas "cármicas" que carregariam você ao mais profundo dos infernos são apagadas. Esta verdadeira natureza é a raiz e substância de todo ser sensível. O homem custa a se convencer que sua própria mente é a Grandiosa Integridade compreendida por Budha, por isso se apega as formas superficiais e olha para a verdade fora de sua mente, lutando para ser um Budha, através de práticas ascéticas. O que busca e não encontra ainda, está amarrado por suas ilusões dos dois mundos: um da perfeição que esta além, da paz sem luta, de alegria sem fim; outro o mundo do cotidiano do sofrimento e do mal, sem sentido, com o qual vale muito pouco a pena se relacionar.
Secretamente ele deseja o primeiro, mesmo porque abertamente despreza o último. Entretanto, hesita em mergulhar no fecundo Vazio, no abismo de sua própria Natureza-Original, porque, na sua mais profunda inconsciência, receia abandonar seu mundo familiar de dualismo pelo mundo desconhecido da não-dualidade, de cuja realidade ainda duvida. Neste mundo há incontáveis objetos e cada um é, respectivamente, o mundo inteiro. Quando alguém chega a compreender esse fato, percebe que cada objeto, cada ser vivo é o todo, mesmo que ele próprio não compreenda.

Se compreendermos o corpo de Budha,
Não existe mais nada.
Fonte original,
Nossa própria natureza
É o puro e verdadeiro Budha.

Esse verso do Sutra Shodoka, "O Canto do Satori Imediato", de Yoka Daïshi, significa que, se compreendemos a realidade, se obtivermos a realização completa, nosso corpo tornar-se-á Budha. Tornar-se Budha significa receber e apreender a vida cósmica. Temos de compreender que nosso corpo e o cosmos não estão separados; eles formam uma unidade. A essência do Sutra do Prajna Paramita é:

Os fenômenos não são diferentes do vazio,o vazio não é diferente dos fenômenos.

Taisen Deshimaru Roshi
Shodoka - O Canto do Satori Imediato.

Aru ga mama


Haru wa hana
As flores na primavera

Natsu hototogisu
Cucos no verão

Aki wa Tsuki
A lua no outono

Fuyu yuki saete suzushi karikeri
Neve gelada no inverno

(Dogen Zenji)


"Verdade é o que nunca foi escondido. Se você tiver olho, dá para ver à sua frente, está tudo manifestado."

(Tokuda Igarashi Roshi)

Olhar Espelho


"Quando usamos todo o corpo-mente para olhar formas e quando usamos todo o corpo-mente para ouvir os sons, apesar de os estarmos sentido diretamente, não é como reflexo do espelho de uma imagem e não é como a água e a Lua. Enquanto estamos experimentando um lado, estamos cegos para o outro lado."

(Dogen Zenji - Shobogenzo - Genjo Koan)

Quando dizemos o Buddha, o Dharma e a Sangha, estes três tesouros, isso parece na nossa mente alguma coisa distante, um lugar muito alto.Mas isto é realmente aqui e agora. Não é um lugar distante porque tudo o que nós temos é apenas este momento.Este momento nunca vai voltar novamente nesta eternidade deste inteiro universo.Cada momento é apenas um momento. Não pode ser comparado com qualquer outro momento.Os seres humanos tem tido muito progresso, muito. Assim nós temos uma maneira de comparar com ontem, com o ano passado, assim nós podemos pensar sobre o passado, pensar sobre o futuro e comparar um com o outro e assim esta nossa cultura de progresso, este progresso que vem aqui e agora. Então a atividade mental é muito boa também para os seres humanos e por causa disso nós esquecemos que tudo o que nós temos é este aqui agora. Não pode ser comparado com nenhum outro momento.Assim este momento é o momento da mais alta iluminação.Por que este momento é iluminação? Porque a cada momento nós somos um com todo o universo. Quando eu disse durante o primeiro zazen: um espelho contém todo o universo a cada momento, é um em todo o universo a cada momento, sem nenhuma perda, sem nenhuma preferência, sejam um com todo o universo, sejam um com este inteiro universo, recebam sem apego e deixem ir sem apego.Mas se em nossas mentes nós temos apego, comparamos com as nossas memórias e com os nossos pensamentos acerca do futuro então ao mesmo tempo a nossa atividade mental é uma ferramenta útil, mas ao mesmo tempo cria doença. É fácil de entender que os nossos olhos são espelhos sem identidade própria, sem preferência, sem apego; a mesma coisa com os ouvidos que são espelhos para sons, sem identidade, sem apego, sem preferência.Apenas sejam um com todo o universo. Nosso nariz é um espelho para os cheiros, sem identidade, sem apego, sem preferências e a língua é o espelho para os gostos. Sejam um com todo o universo, sem apego, sem preferências.Nosso corpo e nossa pele também são espelhos. Recebam o frio e o calor, sem apego, sem preferência. Mas parece que a nossa mente tem um self, uma identidade, porque a mente tem apego. Na nossa mente nós temos uma lua imaginária dentro de uma gota de orvalho. Quando a lua está no céu ela sempre está dentro da gota de orvalho, assim parece que a lua existe dentro de uma gota de orvalho, dentro da água, dentro do oceano. Assim realmente parece que a lua existe dentro da água. Assim a nossa mente cria ambas as duas coisas e a doença.

Palestra de Doshô Saikawa Roshi
Tradução Monge Genshô
Extraido do Blog Silêncio!

O Dedo que Aponta a Lua


Eles não conseguem nada ao tomar a Lua
pelo dedo que aponta.
Eles misturam e confundem voluntariamente
o mundo objetivo e o mundo subjetivo.
O homem que abrange todos os aspectos
é Buda.
Então ele pode ser chamado
pelo nome de Kanjizai (Avalokitesvara).

(Yoka Daishi - Shodoka)



Um amigo lhe diz: "Olhe que linda Lua!" Mas você olha apenas para o dedo que aponta para a Lua e fica querendo saber o que representa a Lua. Você procura a verdade somente nesse dedo e, assim, continua no erro. Alguns procuram a verdade somente nos livros, nos textos ou nos sutras, mas não podem encontrá-la, porque ficam amarrados à letra, às frases e analisam demais. Não podem ter uma visão sintética das coisas e criam para eles próprios suas ilusões e limites através do intelecto. Criam categorias e não vão além dessa sabedoria limitada, não atingindo, portanto, a sabedoria cósmica, universal.
Descartes criou categorias a partir do seu cérebro intelectual, frontal, categorias que influenciaram a ciência até a nossa época, bem como a psicologia. Mas sua teoria continua incompleta. A verdadeira sabedoria também é criada a partir do hipotálamo, do tálamo, do corpo inteiro.
Eles misturam e confundem os objetos dos sentidos. Daí se criam as ilusões e os conceitos limitados. A verdade não se encontra apenas nessas categorias incompletas; da mesma forma, não devemos olhar apenas para um unico aspecto das coisas, um unico lado, limitado pela nossa própria consciência, pelo nosso cérebro frontal. Nós temos de considerar o ponto de vista do cosmo, da verdade absoluta, da sabedoria cosmica; despertamo-nos para hannya, a sabedoria do Buda.
Kanjizai: Kan significa visão e Jizai, verdadeira liberdade.
Este poema difícil explica o que significa ignorância e infantilidade. Se você mostrar a Lua no céu apontando-a com o dedo, as pessoas pouco inteligentes não verão a verdaddeira Lua, mas tomarão o seu dedo por Lua. Isso se aplica aos intelectuais, pois não se pode compreender verdadeiramente pelos livros. A ciência e o conhecimento agem como o dedo que apontam para a Lua. Nos templos Zen, a biblioteca é chamada shigetsu, "o dedo que mostra a Lua".
Temos que encontrar a verdade além dos conveitos e das categorias, temos de ver a verdadeira Lua; a verdade não se encontra no vazio do punho nem na ponta do dedo.
O que é o sujeito, o que é o objeto?
Por exemplo: o olho e a cor, o nariz e o odor, a orelha e o som, os sentidos e as percepções que variam segundo o meio que nos levam a emitir categorias, conceitos. Esses conceitos não devem nos induzir ao erro e limitar nossas percepções.
É preciso saber abranger tudo, todos os aspectos.
O verdadeiro Buda, a verdadeira sabedoria, o verdadeiro amor universal consiste em não ver apenas um unico aspecto das coisas, um unico lado, uma unica forma.
A liberdade está em toda a parte: Kanjizai.

Taisen Deshimaru Roshi
Shodoka - O Canto do Satori Imediato.