Bodhidharma - Esboço da prática




Bodhidharma nasceu em torno do ano 440 em Kanchi, capital do reino sulista indiano de Pallawa. Ele era um brâmane de nascimento e o terceiro filho do Rei Simhavarman. Quando ele era jovem, ele converteu-se ao budismo, e mais tarde o Dharma lhe foi ensinado por Prajnatara, de Magadha, que foi convidado pelo seu pai. Magadha era o antigo centro do budismo. Também foi Prajnatara quem disse para Bodhidharma ir para China. Uma vez que a tradicional rota terrestre estava bloqueada pelos hunos, e uma vez que Pallawa tinha laços comerciais por todo Sudeste Asiático, Bodhidharma partiu de navio de um porto nas proximidades, Mahaballipuram. Depois de contornar a costa da Índia e a Península da Malásia por três anos, ele finalmente chegou ao sul da China ao redor do ano 475.

Muitas estradas levam ao caminho, mas basicamente há apenas duas: prática e dicernimento. 

Entrar pelo discernimento significa ver aquilo que é, através de ensinamentos e acreditar que todos seres vivos compartilham a mesma natureza, a qual é dissimulada pela sensação e ilusão. Aqueles que saem da ilusão para a realidade, os que meditam defronte à parede, a ausência de dualismo, a unidade de mortalidade e sabedoria, e que permanecem imóveis  perante às escrituras estão em concordância completa e óbvia com o dicernimento. Sem se moverem, sem esforços, eles entram, dizemos, pelo dicernimento.

Entrar pela prática refere-se as Quatro Práticas,  levadas em consideração: sofrer adversidades, hamornizar-se às condições, nada buscar e praticar o Dharma.

Primeiramente, sofrer adversidades. 
Quando aqueles que buscam o caminho encontram adversidades deveriam pensar: "por incontável tempo tenho dedicado-me ao trivial em detrimento do essencial e vagueado em todo tipo de existência, raivoso sem motivo e culpado de inúmeras transgressões. Agora, embora eu não cometa erros, sou punido pelas conseqüências de minhas ações. Nem os deuses nem os homens podem antever quando uma má ação frutificará. Aceito isso de coração aberto e sem reclamação." Dizem os sutras: "Quando você encontra adversidades não se exaspere, ela é conseqüência de suas ações". Com tal entendimento você está em harmonia com a razão. E ao sofrer, você entra no Caminho.

Em segundo, adaptando-se às condições. 
Como mortais, somos regidos por condições e não por nós mesmos. Todo sofrimento e toda alegria que experimentamos depende de cauas e condições. Se devêssemos ser agraciados por algum grande prêmio, tal como fama ou fortuna, é o fruto da semente plantada por nós no passado. Quando mudam as condições, isso cessa. Por que deliciar-me com esta existência? Mas, enquanto o sucesso e o insucesso dependem de condições, a mente não cresce nem diminui. Aqueles que permanecem imóveis perante os ventos da alegria e da tristeza, silenciosamente seguem o Caminho.

Em terceiro, nada buscar. 
As pessoas estão iludidas. Estão sempre ansiando por algo, sempre, por assim dizer, buscando. Mas os sábios despertam. Eles escolhem o dicernimento em vez dos hábitos. Eles fixam suas mentes na natureza dos fenômenos e deixam seus corpos mudarem com as estações. Todos os fenômenos são vazios de si mesmo Eles nada contêm que valha se apegar. A Calamidade alterna-se com a Prosperidade. Habitar nos três reinos (desejo, raiva e ignorância) é habitar numa casa em chamas. Apegar-se ao corpo (forma) é insatisfação.  Aqueles que compreendem isso desapegam-se de todas as coisas existentes e param de imaginar ou buscar algo. Os sutras dizem: "Buscar é insatisfação. Nada buscar é encontrar a satisfação". Quando você nada busca, você está no Caminho.

Em quarto, praticar o Dharma.
O Dharma é a afirmação de que todas as naturezas são puras. Através dessa verdade, todas aparências são vazias de si mesmo. Decadência e apego, sujeito e objeto são vazios, apenas discriminações. Os sutras dizem: "O Dharma não inclui seres, pois o Dharma está livre da noção de 'eu'." Aqueles que são sábios o suficiente para entender esta verdade estão ligados à prática de acordo com o Dharma. E uma vez que isso é real, incluindo que nada vale a pena buscar, eles dão seus corpos, vidas e propriedades em caridade, sem lamentar e sem a vaidade do doador, do presente ou do presenteado. E, para eliminar a ignorância, eles ensinam, mas sem apegarem-se à forma. Assim, através de sua própria prática, eles são capazes beneficiar os seres. E, assim como a caridade, eles também praticam as outras virtudes. Mas enquanto praticam as seis virtudes (generosidade, preceitos, paciência, esforço, concentração e sabedoria) para eliminar a ilusão, eles nada praticam. Isso é conhecido por "praticar o Dharma".

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