Isso significa ser você mesmo, sempre você,
sem se ligar ao seu antigo eu".
sem se ligar ao seu antigo eu".
Por que praticamos o zen, se já temos a natureza de Buda? Essa foi a grande questão sobre a qual Dogen Zenji se debruçou antes de ir à China se encontrar com Tendo Nyojo Zenji. Não se trata de um problema simples, afinal, o que quer dizer todos têm a natureza Buda?
O entendimento usual a esse respeito é de que a natureza Buda é algo inato dentro de nós, e por causa dessa natureza, fazemos alguma coisa. Se há uma planta, deve haver uma semente que estava ali antes de a planta existir. Por causa de sua natureza, algumas plantas são vermelhas e outras amarelas. A maior parte de nós entende as coisas desse modo, mas esse não é o entendimento de Dogen. Esse tipo de natureza é uma idéia que se tem na mente. Por que iríamos praticar, se já temos a natureza Buda? Podemos achar que a natureza Buda aparecerá somente depois de praticarmos e eliminarmos vários desejos individualistas.
De acordo com Dogen Zenji, no entanto, esse tipo de compreensão se baseia na compreensão não clara das coisas. O seu entendimento é que a natureza Buda se apresenta somente quando as coisas aparecem. A natureza e a coisa em si são dois nomes da mesma realidade. Às vezes, dizemos a natureza Buda. Outras vezes, a chamamos de iluminação ou bodhi, Buda ou realização. Chamamos a natureza Buda não somente por esses nomes, mas às vezes por "maus desejos". Podemos nomeá-los maus desejos, mas, para Buda, também é natureza Buda.
Do mesmo jeito, as pessoas são capazes de pensas que os leigos e os sacerdotes são essencialmente diferentes, mas na realidade não há um individuo em particular que seja um sacerdote. Cada um de vocês poderia ser um sacerdote e eu poderia ser um leigo. Por causa de minha túnica, sou um sacerdote, e me comporto como tal. É tudo. Não há uma natureza inata que diferencie sacerdotes de leigos.
Seja o que for nomeado, trata-se de um outro nome para mesma realidade. Ainda que você nomeie algo como montanha ou rio, trata-se somente de um outro nome para a realidade. Ao perceber isso, não somos enganados por palavras como "natureza", "resultado", ou "coisas de Buda". Vemos as coisas com a mente clara. Entendemos a natureza Buda em curso.
"Maus desejos" é um outro nome para natureza Buda. Quando praticamos zazen, de onde vêm esses maus desejos? No zazen, não há lugar para maus desejos. Ainda assim, podemos acreditar que esses maus desejos deveriam ser eliminados. Por que? Você quer eliminar seus maus desejos, para revelar sua natureza Buda, mas onde vai jogá-los? Ao pensar que os maus desejos são algo que possa ser descartado, isso é herético. Maus desejos é só um nome que usamos, mas não é algo que posso ser separado e jogado fora.
Talvez vocês achem que estou brincando, mas não é nada disso. Não é coisa para se rir. Quando chegamos a esse ponto, é preciso entender nossa prática de shikantaza.
Há o famoso koan (no Livro da Serenidade) sobre um homem que sobe ao topo do poste, ele não é iluminado. Quando salta do alto do poste, talvez ele seja iluminado. A maneira pela qual entendemos esse koan é como entendemos nossa prática. A razão pela qual acreditamos que os maus desejos devem ser descartados é porque ficamos no alto do poste. Daí, temos um problema. Na verdade, não há topo do poste, pois o poste continua sempre crescendo; assim você não pode ficar parado ali. Mas quando se tem alguma experiência relativa à iluminação, você talvez ache que possa descansar ali, observando as várias paisagens de cima do poste.
As coisas vão crescendo continuamente ou se transformando. Nada existe em sua própria cor ou forma. Ao pensar: "Aqui é o topo", você se verá diante do problema de saltar ou não saltar. Mas não se pode saltar dali. Isso já é um mal entendido. Não é possível. E mesmo que se tente parar no topo do poste, não se pode ficar ali, porque ele está crescendo continuamente.
Esse é o problema; portanto, esqueça tudo sobre ficar parado em cima do poste. Esquecer sobre o topo do poste é estar onde você está agora. Não estar desse lado ou do outro, não estar no passado ou no futuro, mas estar bem aqui. Você compreende? Isso é shitankaza.
Esqueça esse momento e cresça no seguinte. Esse é o único caminho. Por exemplo, quando o café da manhã está pronto, minha esposa golpeia uns bastões de madeira. se eu não atender, ela talvez continue a batê-los até eu ficar bem zangado. Se eu disser: Hai (sim), não haverá problema. Se eu não disser:"Sim!", ela continuará a me chamara porque não sabe se eu ouvi ou não.
Às vezes, ela pode pensar: "Ele ouviu, mas não responde". Quando não respondo, estou no topo do poste. Não salto de lá. Acredito ter algo de importante para fazer em cima do poste. "Você não me deve chamar. Você deve esperar". Ou posso pensar: "Isso é muito importante! Estou aqui no topo do poste! Você não percebeu isso?" Desse modo, ela vai continuar batendo os bastões. É assim que criamos os problemas.
Assim, o segredo é só dizer: Hai! (sim), e saltar dali. Então, não há problema algum. Isso significa ser você mesmo, no momento presente, sempre você, sem se prender ao seu antigo eu. Você esquece tudo sobre si mesmo e se sente renovado. É um ser novo, e antes que esse novo eu se torne um eu antigo, você diz: "Sim!", e caminha em direção à cozinha, para o café da manhã. Desse modo, a questão de cada momento é esquecer a questão e expandir sua prática.
Como Dogen Zenji diz: "Estudar o budismo é estudar a si mesmo. Estudar a si mesmo é esquecer de você a cada momento". Então, tudo virá e o ajudará. Tudo assegurará sua iluminação. Ao dizer "Sim!" minha esposa vai garantir minha iluminação. "Você é um bom menino". Mas se eu me prender ao fato de que "Sou um bom menino", criarei outro problema.
Assim, em cada momento, concentre-se e seja você mesmo. E nessa questão, onde está a natureza Buda? A natureza Buda é quando você diz:"Sim!". Aquele "Sim!" é a própria natureza Buda. A natureza Buda que você acredita já está dentro de si não é natureza Buda. Quando você se torna você realmente ou quando se coloca de lado e diz: "Sim!", essa é a natureza Buda.
Essa natureza Buda não é algo que aparecerá no futuro, mas lago que já está presente. Se você só tiver uma idéia sobre a natureza Buda, isso não significa nada. É um bolo de arroz pintado, não um verdadeiro. Se você quiser ver um bolo de arroz verdadeiro, deverá vê-lo quando estiver aqui. Assim, o propósito de nossa prática é somente sermos autênticos. Quando você se torna você mesmo, terá a iluminação verdadeira. Se tentar se ater ao que realizou anteriormente, isso não é iluminação verdadeira.
Às vezes, você irá rir de si mesmo quando fizer uma prática errada. "O que estou fazendo?". Quando entender como a prática vai para frente e para trás, você se apreciará. A compaixão ou o amor verdadeiro, o encorajamento ou a coragem verdadeira surgirão daí, e você será uma pessoa muito bondosa.
Nós dizemos: "Uma prática abrange tudo", o que significa que a prática inclui tantas virtudes quantas são as ondas do mar. Quando se pratica desse modo, você se torna uma rocha, uma árvore ou um oceano. Você abrange tudo. A prática contínua é necessária, por isso, não descanse. O modo de continuar é ter uma mente generosa, mente grande, mente branda - ser flexível, sem se apegar a nada. Praticando desse modo, não há necessidade de sentir medo de nada ou ignorar nada. Essa é a dureza do Caminho. Quando não temos nada, somo imperturbáveis.
Estar completamente concentrado no que se faz, isso é simplicidade. E a beleza da prática é que ela pode ser ampliada infinitamente. Não se pode dizer que nosso caminho seja bem fácil ou muito difícil. Não é nada difícil. Todo mundo consegue, mas continuar seguindo-o é bastante árduo.
Vocês não acham?
Muito obrigado a todos.
Shunryu Suzuki Rôshi
Nem sempre é assim
De acordo com Dogen Zenji, no entanto, esse tipo de compreensão se baseia na compreensão não clara das coisas. O seu entendimento é que a natureza Buda se apresenta somente quando as coisas aparecem. A natureza e a coisa em si são dois nomes da mesma realidade. Às vezes, dizemos a natureza Buda. Outras vezes, a chamamos de iluminação ou bodhi, Buda ou realização. Chamamos a natureza Buda não somente por esses nomes, mas às vezes por "maus desejos". Podemos nomeá-los maus desejos, mas, para Buda, também é natureza Buda.
Do mesmo jeito, as pessoas são capazes de pensas que os leigos e os sacerdotes são essencialmente diferentes, mas na realidade não há um individuo em particular que seja um sacerdote. Cada um de vocês poderia ser um sacerdote e eu poderia ser um leigo. Por causa de minha túnica, sou um sacerdote, e me comporto como tal. É tudo. Não há uma natureza inata que diferencie sacerdotes de leigos.
Seja o que for nomeado, trata-se de um outro nome para mesma realidade. Ainda que você nomeie algo como montanha ou rio, trata-se somente de um outro nome para a realidade. Ao perceber isso, não somos enganados por palavras como "natureza", "resultado", ou "coisas de Buda". Vemos as coisas com a mente clara. Entendemos a natureza Buda em curso.
"Maus desejos" é um outro nome para natureza Buda. Quando praticamos zazen, de onde vêm esses maus desejos? No zazen, não há lugar para maus desejos. Ainda assim, podemos acreditar que esses maus desejos deveriam ser eliminados. Por que? Você quer eliminar seus maus desejos, para revelar sua natureza Buda, mas onde vai jogá-los? Ao pensar que os maus desejos são algo que possa ser descartado, isso é herético. Maus desejos é só um nome que usamos, mas não é algo que posso ser separado e jogado fora.
Talvez vocês achem que estou brincando, mas não é nada disso. Não é coisa para se rir. Quando chegamos a esse ponto, é preciso entender nossa prática de shikantaza.
Há o famoso koan (no Livro da Serenidade) sobre um homem que sobe ao topo do poste, ele não é iluminado. Quando salta do alto do poste, talvez ele seja iluminado. A maneira pela qual entendemos esse koan é como entendemos nossa prática. A razão pela qual acreditamos que os maus desejos devem ser descartados é porque ficamos no alto do poste. Daí, temos um problema. Na verdade, não há topo do poste, pois o poste continua sempre crescendo; assim você não pode ficar parado ali. Mas quando se tem alguma experiência relativa à iluminação, você talvez ache que possa descansar ali, observando as várias paisagens de cima do poste.
As coisas vão crescendo continuamente ou se transformando. Nada existe em sua própria cor ou forma. Ao pensar: "Aqui é o topo", você se verá diante do problema de saltar ou não saltar. Mas não se pode saltar dali. Isso já é um mal entendido. Não é possível. E mesmo que se tente parar no topo do poste, não se pode ficar ali, porque ele está crescendo continuamente.
Esse é o problema; portanto, esqueça tudo sobre ficar parado em cima do poste. Esquecer sobre o topo do poste é estar onde você está agora. Não estar desse lado ou do outro, não estar no passado ou no futuro, mas estar bem aqui. Você compreende? Isso é shitankaza.
Esqueça esse momento e cresça no seguinte. Esse é o único caminho. Por exemplo, quando o café da manhã está pronto, minha esposa golpeia uns bastões de madeira. se eu não atender, ela talvez continue a batê-los até eu ficar bem zangado. Se eu disser: Hai (sim), não haverá problema. Se eu não disser:"Sim!", ela continuará a me chamara porque não sabe se eu ouvi ou não.
Às vezes, ela pode pensar: "Ele ouviu, mas não responde". Quando não respondo, estou no topo do poste. Não salto de lá. Acredito ter algo de importante para fazer em cima do poste. "Você não me deve chamar. Você deve esperar". Ou posso pensar: "Isso é muito importante! Estou aqui no topo do poste! Você não percebeu isso?" Desse modo, ela vai continuar batendo os bastões. É assim que criamos os problemas.
Assim, o segredo é só dizer: Hai! (sim), e saltar dali. Então, não há problema algum. Isso significa ser você mesmo, no momento presente, sempre você, sem se prender ao seu antigo eu. Você esquece tudo sobre si mesmo e se sente renovado. É um ser novo, e antes que esse novo eu se torne um eu antigo, você diz: "Sim!", e caminha em direção à cozinha, para o café da manhã. Desse modo, a questão de cada momento é esquecer a questão e expandir sua prática.
Como Dogen Zenji diz: "Estudar o budismo é estudar a si mesmo. Estudar a si mesmo é esquecer de você a cada momento". Então, tudo virá e o ajudará. Tudo assegurará sua iluminação. Ao dizer "Sim!" minha esposa vai garantir minha iluminação. "Você é um bom menino". Mas se eu me prender ao fato de que "Sou um bom menino", criarei outro problema.
Assim, em cada momento, concentre-se e seja você mesmo. E nessa questão, onde está a natureza Buda? A natureza Buda é quando você diz:"Sim!". Aquele "Sim!" é a própria natureza Buda. A natureza Buda que você acredita já está dentro de si não é natureza Buda. Quando você se torna você realmente ou quando se coloca de lado e diz: "Sim!", essa é a natureza Buda.
Essa natureza Buda não é algo que aparecerá no futuro, mas lago que já está presente. Se você só tiver uma idéia sobre a natureza Buda, isso não significa nada. É um bolo de arroz pintado, não um verdadeiro. Se você quiser ver um bolo de arroz verdadeiro, deverá vê-lo quando estiver aqui. Assim, o propósito de nossa prática é somente sermos autênticos. Quando você se torna você mesmo, terá a iluminação verdadeira. Se tentar se ater ao que realizou anteriormente, isso não é iluminação verdadeira.
Às vezes, você irá rir de si mesmo quando fizer uma prática errada. "O que estou fazendo?". Quando entender como a prática vai para frente e para trás, você se apreciará. A compaixão ou o amor verdadeiro, o encorajamento ou a coragem verdadeira surgirão daí, e você será uma pessoa muito bondosa.
Nós dizemos: "Uma prática abrange tudo", o que significa que a prática inclui tantas virtudes quantas são as ondas do mar. Quando se pratica desse modo, você se torna uma rocha, uma árvore ou um oceano. Você abrange tudo. A prática contínua é necessária, por isso, não descanse. O modo de continuar é ter uma mente generosa, mente grande, mente branda - ser flexível, sem se apegar a nada. Praticando desse modo, não há necessidade de sentir medo de nada ou ignorar nada. Essa é a dureza do Caminho. Quando não temos nada, somo imperturbáveis.
Estar completamente concentrado no que se faz, isso é simplicidade. E a beleza da prática é que ela pode ser ampliada infinitamente. Não se pode dizer que nosso caminho seja bem fácil ou muito difícil. Não é nada difícil. Todo mundo consegue, mas continuar seguindo-o é bastante árduo.
Vocês não acham?
Muito obrigado a todos.
Shunryu Suzuki Rôshi
Nem sempre é assim
30 metros na escuridão
ResponderExcluirlembrei-me que na tradição cristã existe um dito que se refere a fé "a fé é um salto na escuridão"... faço agora uma pequena aproximação não relativa a fé cristã em si, mas ao que o texto traz: que pode ser também, na 'escuridão de si'e nesse sentido, no desapego ao si próprio e a todas as construções em torno disso...saltar na escuridão com a confiança no presente único, que também é sempre um desconhecido, saltar no esquecimento de si, de um poste de trinta metros no escuro, dizendo hai!sorrir e continuar, hi escuridão, estou aqui!